Tem uma conta?

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Muito além de rochas


A Gruta do Lago Azul, em Bonito, é um excelente local para apreciar as belezas naturais sem prejudicar o meio ambiente

Por Karina Rodrigues


De uns tempos para cá, um dos passeios mais procurados pelos visitantes é o espeleoturismo, ou seja, o turismo em cavernas. O mistério que envolve o universo das grutas é um dos principais atrativos para a escolha dos turistas, que buscam aventura e um tipo de beleza diferente, saindo um pouco do clichê “campo e mar”. Mas, as cavernas são um ambiente frágil e silencioso, que merecem cuidados e atenção especial para não ficarem comprometidas e não virarem fruto de explorações mal realizadas. Tanto, que o Instituto Chico Mendes, órgão ambiental do Governo Federal, abriga o CECAV (Centro Nacional de Estudo, Proteção e Manejo de Cavernas). Criado em 1997, o CECAV tem por objetivo proteger o rico patrimônio espeleológico do País, criando normas a serem seguidas por empresas turísticas e municípios, a fim de conservar a biodiversidade das grutas. “O turista precisa acessar ambientes, procurando informações junto ao CECAV, das áreas que foram licenciadas, que já têm um planejamento em andamento. O grande problema é que as empresas abrem as cavernas e a vêem como um grande negócio, sendo que muitas vezes elas sequer foram catalogadas ou tampouco foram anunciadas as suas existências”, aconselha o ex-coordenador do CECAV, doutor em Desenvolvimento Sustentável pela UnB e atual analista ambiental, Ricardo Calembo Marra.

Segundo ele, algumas grutas brasileiras sofreram com a ação do homem durante décadas e, hoje, estão completamente comprometidas. “A gruta Maquinéa (Coadisburgo) a Rei do Mato (Sete Lagoas), ambas em Minas Gerais, servem ao turismo desde o século passado. Como ainda não existiam os órgãos ambientais federais, não havia a preocupação em conservá-las, e elas foram muito impactadas com a ação antrópica, com a colocação de um sistema de iluminação totalmente nocivo, que aquece muito a caverna. Lá também não se tem controle do número de visitantes, os níveis de decibéis são extremamente altos para o ambiente, a umidade da caverna foi totalmente comprometida pela visitação intensa e os guias têm de ficar jogando água para umedecê-las", explica.

Porém, alguns municípios seguem o Plano de Manejo Espeleológico e surgem ótimos exemplos ecoturísticos, como é o caso da gruta Lago Azul localizada em Bonito (MS). A caverna foi tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) e segue a todas as recomendações do CECAV. A caverna possui um lago de 90 metros de profundidade formado por águas cristalinas provenientes de um lençol freático, que passam a impressão de serem azuis devido aos raios solares que penetram no interior da formação rochosa, criando um espetáculo de rara beleza. Repleta de estalactites e estalagmites, a visitação só é permitida para crianças acima de 5 anos, e todos os visitantes precisam utilizar tênis ou papetes, para não prejudicar o solo e evitar acidentes. "Eles procuram fazer um trabalho de monitoramento, de não alterar as características do ambiente, a trilha interna, o roteiro que o turista segue ele é totalmente planejado, calculado", afirma Ricardo.

Para que haja um maior monitoramento das cavernas, é preciso que a população denuncie, caso verifique que uma gruta está sendo explorada de maneira inadequada. O CECAV procura apurar as denúncias que recebe, mas muitas cavernas ainda não estão catalogadas e o instituto sequer as sabe de suas existências. O Brasil possui cerca de 7.500 grutas conhecidas, mas acredita-se que esse percentual seja somente 10% do potencial brasileiro. Por isso, é necessário o auxílio da sociedade, para que haja uma maior conservação do habitat espeleológico brasileiro.